Três dias por Leiria, com direito a termas
30/11/2022| Leiria, Porto de Mós| CIMRL
Leiria
O disparar ritmado dos repuxos da Fonte Luminosa, que domina o Largo 5 de Outubro, parece dar o tiro de partida para explorar a cidade que já foi morada de D. Dinis e D. Isabel, de Eça de Queirós ou José Hermano Saraiva.
As letras garrafais vermelhas traduzem bem a alegria da cidade que se reinventou, onde tradição e modernidade andam de mãos dadas. Tudo sob o olhar atento do castelo de Leiria, que por estes dias não pode ser visitado devido a obras de restauro. Mas a loggia é bem visível do centro da cidade e até é fácil imaginar damas e fidalgos, em rendas e veludos, a passear por entre a arcaria gótica mediterrânica.
A sugestão é começar pelas antigas instalações do Banco de Portugal, agora convertidas numa galeria, apropriadamente batizada de Banco das Artes. Não só o edifício em si vale a visita, como as exposições nele patentes.
Mesmo em frente fica o jardim Luís de Camões. Uma agradável mancha verde no centro da cidade. Bancos não faltam para descansar ou apreciar os espetáculos ocasionais. A diversão está garantida e com o distanciamento social exigido pela pandemia. Um local a regressar mais ao final do dia.
Uma rua estreita, mesmo ao lado do Banco das Artes, conduz ao empedrado negro de ruas serpenteantes, onde sobressaem múltiplos pontos de interesse restaurados num misto de modernismo e respeito pelo passado.
Por exemplo, na Igreja da Misericórdia está o centro de diálogo intercultural. Mas atenção aos horários de funcionamento: ao fim de semana só funciona das 14h00 às 17h20. Mais acima, já a caminho do castelo, fica o Museu da Imagem em Movimento. Promete encantar miúdos e graúdos. Teatros de sombras, lanternas mágicas, brinquedos óticos fazem as delícias dos visitantes numa lógica diferente de museu, que permite tocar e experimentar os conceitos que fizeram os primórdios do cinema.
Ao calcorrear as ruas podes descobrir pequenas lojas que mantêm vivo o comércio local, ver como novos conceitos renascem em espaços do antigamente ou até ficar a conhecer o local onde Eça de Queirós viveu. Para os amantes do escritor, é possível fazer uma visita guiada de hora e meia com passagem por seis pontos que são referidos no “Crime do Padre Amaro”, obra que escreveu inspirado numa cidade pequena, provinciana e cheia de mexericos – Leiria dos finais do século XIX.
E é precisamente na praça Eça de Queirós que podes ver o gato preto de Ricardo Romero. Uma peça de dois metros e vinte de altura, feito de resina acrílica sobre esferovite que pretende lembrar que o mundo é uma janela imensa. Um apelo para que as pessoas vejam para além do que olham. Mas atenção, apesar do tamanho, é preciso olhar para cima. Consegues encontrar o gato?
E já que estás mesmo ao pé da Praça Rodrigues Lobo aproveita para almoçar, retemperar forças e recuperar do calor intenso. Tens muito por onde escolher e esplanadas não faltam.
Terminado o repasto há que explorar outros pontos da cidade, que vive o seu rio em pleno. As margens do Lis foram requalificadas e proporcionam um agradável passeio. A força da água continua, ao fim de tantos séculos, a mover o moinho hoje transformado em Museu. Mas onde ainda se faz farinha. Uma cronologia da história do papel, uma máquina de impressão, um cavalete tipográfico são algumas das peças expostas. Assim como um mapa com a rota desse bem precioso, onde Leiria ocupa um lugar de destaque a partir de 1411. É verdade que muito depois da China (105) Japão (610), Bagdad (795), Fez (1100) ou Nuremberga (1390).
Ainda a funcionar é possível fazer folhas de papel, tal como foram fabricadas em 1496 para um dos primeiros livros impressos do país. O projeto da autoria do arquiteto Siza Vieira, para além da vertente do papel, ainda mói o cereal com a mesma eficiência do século XIII e é mesmo possível levar uns quilos para casa. É só escolher entre milho, centeio, trigo…
Ainda no museu, os bancos junto ao rio convidam a uma pausa. O som da corrente é apenas interrompido pelo chilrear dos pássaros que parecem sentir-se desafiados a sobrepor o seu canto ao turbilhão quase ensurdecedor da água. A sombra fresca e a brisa suave são perfeitas para a leitura.
É tempo de voltar ao passeio. Basta atravessares o Parque do Caniço para chegares ao Museu de Leiria. Pelo caminho duas notas: o centro de interpretação ambiental e o carvalho plantado a 19 de maio de 1996 para comemorar o protocolo de geminação de Leiria com a cidade de Rheine, na Alemanha.
No museu, instalado num antigo convento de Santos Agostinho do século XV, há muito para descobrir nos dois pólos em torno dos quais as exposições são organizadas. A exposição permanente pretende ser “uma janela aberta sobre a memória de um território longamente habitado”. Logo à entrada, uma tela cobre toda uma parede com a fauna e flora de tempos pré-históricos. Painéis acrílicos sobrepostos com a representação de outros animais dão uma noção de profundidade. Por baixo, um expositor apresenta fósseis milenares e um monitor passa a encenação das cerimónias fúnebres do menino do Lapedo, a denominação dada ao fóssil, com 25 mil anos, de uma criança encontrado no Abrigo do Lagar Velho do Vale do Lapedo.
Com uma interessante técnica expositiva das pinturas rupestres passa-se para uma vila romana e num salto já se está no pinhal de Leiria, que homenageia D. Dinis e a rainha santa, o papel e a imprensa e até as cortes de Leiria. Tudo no mesmo espaço museológico. “Uma catedral verde e sussurrante onde a luz se ameiga e se esconde e onde ecoante a cantar se alonga e se prolonga a longa voz do mar”, descreve Afonso Lopes Vieira.
De sala em sala chega-se à parte das exposições temporárias, agora ocupada pela “Plasticidade – História dos Plásticos em Portugal”. Um verdadeiro tributo a esse material agora quase diabolizado, mas que é fundamental para a economia da região. Está patente até dezembro e vale bem a pena ver o que já se fez, e o que agora se faz, em plástico. Desde próteses cirúrgicas a componentes de sondas espaciais. Tudo com mão portuguesa.
O dia já vai longo e talvez seja hora de voltar ao jardim Luís de Camões para descansar as pernas e, se possível, abrir o apetite para o jantar com uma Brisa do Lis – um doce, mesmo doce, confeccionado apenas com amêndoas, açúcar e ovos. Ou seja, sem farinha.
Um pecado delicioso pelo qual é preciso pedir perdão. O melhor é visitar algumas das muitas igrejas da cidade, de preferência a Sé, para caminhar mais um pouco e abrir o apetite para o jantar. Já agora aproveita para descobrir as várias paredes com história. Tens direito a uma ajuda: em www.artepublicaleiria.com consegues obter a localização das diversas pinturas murais.
É hora de jantar. Então o que vai ser? Duas sugestões: desfrutar as noites quentes numa das muitas esplanadas junto ao mercado de Sant’Ana, ou comer algo rápido para desfrutar de mais uma experiência cultural – uma ida ao teatro. Entre o Teatro Miguel Franco ou o Teatro José Lúcio da Silva é espreitar o que está em cena e escolher o que te agrada mais.
Praia do Pedrógão / Lagoa da Ervideira / Parque Termal de Monte Real
E depois de um verdadeiro banho de cultura é tempo de outros mergulhos. Não há nada como acordar cedo para ir à praia do Pedrógão e com sorte ainda consegues ver alguma das companhas em ação. A Arte Xávega é ímpar e a luta do homem para retirar do mar o seu sustento é sempre um espetáculo digno de se ver.
Se por acaso a manhã estiver fosca não te preocupes, podes sempre desfrutar das delícias da água fresca noutra paragem: a Lagoa da Ervideira. Um belo areal com infraestruturas de apoio que rivalizam com qualquer praia do litoral. Até é possível ter aulas de padle ou alugar boias individuais para pescar na lagoa, formada pelo rio Liz.
Um passadiço contorna o espelho de água, até à zona de observação de aves. E há tantas para tentar descobrir: Galinha d’água, Águia Cobreira, Trepadeira Azul, Milhano, Bico-de-Lacre ou Pica-pau-verde são apenas alguns dos exemplos de aves que podes apreciar durante a visita à Lagoa da Ervideira.
O cheiro a pinhal quente, as margens verdejantes são uma excelente alternativa às ondas da praia. Também podes passar por lá simplesmente para aproveitar o parque de merendas para o almoço.
À tarde parte à descoberta do castelo Monte Real com as suas muralhas bem conservadas que dão uma ideia dos tempos em que D. Dinis por ali passeava com a sua rainha Santa Isabel. Monte Real remonta aos tempos romanos, a terra que foi escolha dos reis pela qualidade agrícola dos Campos do Ulmar, voltou a atrair as atenções pelas qualidades medicinais das suas águas que ditaram a construção das termas na primeira metade do século XX. Apesar das referências, não é fácil descobrir vestígios destas termas.
Em alternativa vai até ao Parque Termal de Monte Real onde podes apreciar cerca de 100 espécies diferentes num total de 30 mil plantas (árvores, arbustos e herbáceas). Se vires um esquilo aos saltos não estranhes. Há muitos e com sorte e paciência podes sempre conseguir uma foto para recordar.
No parque das termas, que já reabriram depois de temporariamente desativadas por causa da pandemia de Covid-19, podes passear pelas diferentes infraestruturas criadas: lagos, parques ou simplesmente por entre as árvores, cuja sombra é um bálsamo para o calor do verão. Uma dica: aproveita para tocar o sino da pequena igreja, procura as rãs por entre os nenúfares e os lagostins nos riachos artificiais.
Antes de partir ainda podes desfrutar do conjunto de bancos, logo à entrada do parque com diferentes tipos de azulejos e que respeita, na perfeição, as novas regras de distanciamento social. Basta escolher.
Foto dos bancos. Legenda: “Agora escolhe”. Aproveita os bancos e a sombra para descansar após um belo passeio.
O destino é Cortes. Sobe até ao topo para ver a pequena capela da Nossa Senhora do Monte. O mais certo será estar fechada, mas a vista desafogada do vale é recompensa suficiente. As pás dos aerogeradores cortam o ar ininterruptamente, gerando energia que é transportada pelos cabos de alta tensão vale abaixo.
Agora é a tua vez de descer, tudo até à nascente do Rio Lis, seca durante o verão, mas com água abundante no tempo das chuvas. Mas basta andar uma meia dúzia de metros para começar a ver a água cristalina por entre as pedras lisas. E um pouco mais à frente até podes tomar um banho. Mergulhar não, pois é pouco profundo, mas podes treinar paddle ou andar num barco de borracha. Por aqui também há a aldeia de Cortes, com alguns alojamentos locais que podes usar para uns dias de descanso. A diversão não é só para as crianças, os adultos também têm via verde para a brincadeira. Além de tudo isto, há um parque de merendas, perfeito para apreciar as iguarias da região num lanche ajantarado. Se quiseres organizar a tua volta de outra forma, este também é um bom ponto para almoçar.
Porto de Mós
Se tiveres um terceiro dia para desfrutar da região vai até Porto de Mós. Começa pelo castelo pois tem horários mais rígidos – abre às 10h00 e fecha às 12h30, para reabrir às 14h00 e fechar às 18h30. As torres a sul ornamentadas com uma cúpula piramidal, forradas de telhas verdes de escama vidrada são uma das imagens de marca desta fortificação que, ao longo dos séculos foi acumulando influências militares, góticas e renascentistas.
Foi erguido sob os escombros de um posto de vigia romano, tendo assumido um papel fundamental no período da conquista cristã. Tem uma forma pentagonal e destaca-se na fachada principal a loggia corrida com as suas abóbadas ogivais. O castelo está em excelente estado de conservação, fruto da última intervenção de reabilitação em 1999. Foram muitas ao longo dos séculos, até porque a estrutura não ficou incólume ao terramoto de 1755. Inclusivamente há um registo fotográfico das várias campanhas de reconstrução e restauro entre 1936 e 1960.
Afonso IV, conde de Ourém, merece um lugar de destaque já que foi o responsável por diversas melhorias que transformaram o castelo medieval num solar renascentista.
Continuando a viagem por outros tempos, vai até ao centro hípico de Alcaria. Mas tens sempre de marcar com antecedência esta passagem (que exige um mínimo de dois participantes), sobretudo se fores com um grupo de amigos ou com crianças, porque há diversos tipos de passeios que podes fazer no parque natural: o caminho dos medronhos, o trilho das borboletas, o caminho do moinho, etc. Seja na versão passeio ou apenas por uma hora (que custa cerca de 40 euros os adultos, 25 euros as crianças) tudo é adaptado à experiência da cada um, incluindo principiantes absolutos, e há sempre supervisão de um profissional credenciado. Além disso, podes escolher um passeio que inclua um piquenique feito em parceria com um restaurante local. O centro funciona das 9h00 às 19h00 (no verão).
Além disso, também podes participar no dia a dia dos cavalos, aprendendo a alimentar, cuidar, aparelhar. Tem incluída uma aula de equitação, almoço e depois oportunidade para demonstrar os conhecimentos adquiridos.
Ainda numa versão mais desportista, vai até à ecopista de Porto de Mós. Se tiveres bicicleta poderás percorrer os cinco quilómetros e desfrutar dos túneis e das experiências de downhill. Se vais a pé leva cerca de uma hora a percorrer a pista que tem numa das extremidades um parque das merendas. Para os mais aventureiros ainda há três quilómetros adicionais que te levam a conhecer como era a linha férrea.
O que não podes deixar de ver são as centenas de muros de pedra que serpenteiam ao longo de quilómetros e se mantêm íntegros numa arte milenar, que desafia o tempo. Um puzzle de paciência infinita e mestria.
A Fórnea é também um local de visita obrigatória. É verdade que é muito mais espetacular no inverno porque as águas da chuva criam uma impressionante queda de água. Mas de verão é a profundidade do vale que te vai deslumbrar. E se é de vistas largas que gostas pára também no Miradouro da Azenha onde tem ainda um sinal peculiar com os 15 destinos onde se encontram emigrados os sambentonenses.
Por aqui há ainda o campo da Batalha de Aljubarrota ou as grutas de Mira D’aire, e podes organizar a visita contemplando estes locais, mas deixamos estas sugestões para outro roteiro.
Comunidade Intermunicipal
da Região de Leiria
Edifício Maringá, Torre 2 – 2º andar, 2400-118 Leiria
Telefone: +351 244 811 133
(Custo de uma chamada para a rede fixa nacional)
Email: cimrl@cimregiaodeleiria.pt