Toda a experiência é um incessante desafio dos sentidos.
Quando pensas que a tua boca não se pode abrir mais de espanto, há sempre algo ainda mais surpreendente à frente no caminho. Tudo começa no primeiro poço – a Sala Grande – onde a primeira descida, a 27 de julho de 1947, é recriada por um manequim preso numa corda. Dá vertigens! E pensar que naquele tempo nem havia lanternas. A iluminação era assegurada por ferros em chama. Hoje, 90% das 3.000 lâmpadas são LED.

E se na gruta da Moeda, na Batalha, a temperatura é todo o ano de 18ºC, aqui desce um grau para 17ºC, um reflexo da temperatura média anual do local. Com 11,5 quilómetros de extensão (embora só seja possível visitar cerca de 600 metros) e até 230 metros de profundidade, grande parte da gruta está coberta de água já que é atravessada por um rio subterrâneo – o Rio Negro.

São 683 degraus, sempre a descer (mas para subir há dois elevadores, não desesperes). Numa visita de 45 minutos é possível ver as formações estranhas e variadíssimas que se formaram ao longo dos anos. O ritmo de crescimento é de um centímetro a cada 80 anos, mas na mesma sala pode haver ritmos de crescimento diferentes.

Galardoada com o prémio das sete maravilhas naturais de Portugal, antes da pandemia, a gruta recebeu 150 mil visitantes em 2019, sendo que 45% foram estrangeiros. E se durante o percurso te cruzares com o Prof. Crispim, uma das pessoas que mais percebe de espeleologia em Portugal, não estranhes. Este professor da Faculdade de Ciências de Lisboa está a fazer um estudo sobre o sistema de águas do maciço calcário.

A gruta só foi aberta ao público em agosto de 1974, porque entre 1958 e 1971 foi classificada como abrigo militar. Ainda hoje, nas cartas militares, está registada como um buncker.

Para além do interesse espeleológico, tem muitas outras utilizações. Por exemplo, durante três anos, 12.500 garrafas de vinho D. Ermelinda Freitas estiveram a estagiar nas profundezas da terra, com a humidade, pressão e temperaturas ímpares. Um stock que, entretanto, já foi substituído com algum atraso devido à pandemia. E como se transporta o delicioso néctar até à superfície? Da forma mais ancestral possível: em mochilas às costas.

A gruta também já foi palco de filmagens. Na década de 80, uma televisão francesa filmou o Conde Monte Cristo numa das galerias. Conta quem assistiu que foi extraordinário, com uma decoração brutal e um pequeno pesadelo logístico com um set nas profundezas: a iluminação, os geradores, os carros de apoio, a alimentação da equipa…

Também já lá foram gravados vários videoclips, como “Ali Babá” das Doce, ou “Common Prayers” dos Moonspell. No Dia Internacional da Música, cerca de 100 coralistas cantaram no interior da gruta; já foi palco de espetáculos de jazz; lançamento de marcas de carros, de supermercados e acolhe regularmente festas e jantares.

Fora da gruta existe uma exposição de rochas e fósseis, resultado de 70 anos de espeleologia.

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