Uma viagem no tempo. Descobrir histórias e lendas.
30/11/2022| Alvaiazere, Ansião| CIMRL
Refúgio antigo de artistas e reis
Como em muitos outros pontos do país, o nome Ansião resulta de uma lenda, segundo a qual a Rainha Santa Isabel, quando viajava por aquelas terras, frequentemente dava esmola a um ancião e, por isso, referia-se à região como as terras do Ancião. E assim ficou. Há na vila um bonito painel de azulejos, de 1937, que retrata esta lenda popular.
A vila de casario recuperado tem muito mais para ver do que inicialmente se espera. Exibe edifícios de traça antiga, paredes meias com o que de mais moderno a arquitetura oferece.
A praça do Município desafogada em frente à câmara municipal é um excelente ponto de partida ou de chegada, porque os banquinhos de madeira convidam a dois dedos de conversa, folhear um livro ou jornal ou simplesmente ver as correrias das crianças que desfrutam do espaço plano nos seus triciclos ou patins.
O edifício da câmara, o palácio de D. Luís de Meneses, era a antiga residência dos Condes de Ericeira, mesmo ao lado da Igreja Santa Casa da Misericórdia. Terá começado por ser, na segunda metade do século XVII, a capela privada da família do 3.º Conde da Ericeira. Provavelmente só vais poder apreciar a fachada porque a porta está sempre fechada, mas a inscrição no topo deixa-nos a pensar: “Maria concebid sem pecado original”.
Se conseguires planear esta viagem marca previamente, junto do Posto de Turismo (236670206) ou da Biblioteca (236670203), uma visita ao Consultório da Memória, Dr. Fernando Travassos. E, já agora, dá um salto à própria Biblioteca. Continua a descer e dás com o Pelourinho, mesmo em frente a outro edifício municipal, que também apresenta um painel de azulejos feito a partir de uma aguarela de Pier Maria Balsi com uma representação da vila tal como era em 1669. Num jogo interessante, de um lado está a versão original e do outro a mesma imagem colorida pelo pintor Jorge Estrela.
Mete pés ao caminho e segue até à entrada de Ansião para visitares o Parque Verde. Tem de tudo um pouco. Deve quase agradar a gregos e troianos. Logo à entrada foi criada uma estrutura para as manobras mais radicais daqueles que tratam os skates por tu. Também existe um parque onde até os tradicionais baloiços marcam presença. Existem aparelhos para exercitar as mais variadas partes do corpo, campos de futebol e muitas pontes para ir atravessando o rio Nabão de um lado ao outro. As estruturas redondas de pedra (poços) demonstram que a água abunda, tal como os juncos que invadem as margens do rio. Onde a água é visível, há dezenas de peixes minúsculos frenéticos e lagostins que atestam a limpeza do rio. Se já está cansado de andar, aproveita as bicicletas partilhadas (E-Ginga) e segue na ciclovia para ires dar uma vista de olhos à nascente do rio que ganha a sua expressão mais tumultuosa em Tomar. É muito interessante o sistema de canais e de pequenas comportas nesta nascente batizada de Olhos de Água.
A vila, assim como o concelho, tem vários vestígios romanos. A ponte Galiz à saída do Parque Verde é um exemplo. Já pela ponte da Cal podes partir à descoberta de Santiago da Guarda, onde o complexo monumental e a sua vila romana, descoberta em 2002, são de visita obrigatória. Há que subir à torre para poder observar os painéis de mosaico de uma outra perspetiva. Mas esta é uma visita que deves guardar para a tarde, dada a distância e a monumentalidade do local.
Ansião é muito mais do que a vila, que dá nome ao concelho. Em Chão de Couce, por exemplo, também vale a pena uma passagem, nomeadamente na Igreja de Nossa Senhora da Consolação cujo altar-mor é formado pela última obra completa de José Malhoa. Tal como Figueiró, Ansião também foi refúgio de artistas (e reis). Na Quinta de Cima, monarcas, políticos, pintores e escritores refugiaram-se nesta residência senhorial do século XVI para fugir ao bulício da capital ou procurar inspiração. Já na vila de Avelar podes visitar a igreja de Nossa Senhora da Guia e o Pelourinho que marca a concessão do foral, em 1514, por D. Manuel I.
O dia não fica completo sem uma passagem por Pousaflores para veres o cruzeiro centenário e a pequena igreja no largo das Tílias. As casas e muros decorados com flores coloridas, ao jeito dos Santos Populares, em Lisboa ou no Porto, ou das Festas de Campo Maior, indicam que vais no caminho certo.
Além dos troncos nodosos das tílias, do relógio que no campanário marca a passagem do tempo, e dos moinhos de ventos que nos montes circundantes são um despertar para os tempos modernos, há ainda no largo uma fonte com um azulejo de Santo Alberto. Datada de 1958 tem um verso pitoresco: “Água doce e cristalina //Deu à terra mais valor //Oferta quase divina //Do senhor comendador”.
Em Ansião, os pontos de interesse não estão todos juntinhos, por isso, nas deslocações de um lado para o outro vai ter oportunidade de ver os característicos muros de pedras soltas, mas também os moinhos altaneiros (mas já não de velas ao vento como noutros tempos.
E, só mais uma dica, não deixes de provar, numa das refeições do dia o delicioso queijo Rabaçal feito a partir da mistura do leite de ovelha e cabra e com uma maturação de 20 ou trinta dias. Uma delícia! Em alternativa também tens o queijo fresco e já agora as compotas e o mel da Serra de Sicó. Bom é só ter estômago para tanta coisa boa.
A capital do Chícharo
A arqueologia é um dos pratos fortes deste destino do centro de Portugal. Os vestígios humanos por estas paragens remontam ao paleolítico, mas foram os árabes e os romanos que deixaram mais. Podem ser apreciados no território (como as pontes, antas, minas, vilas) ou tudo explicadinho no museu municipal.
O museu tem vários núcleos. E se um deles te leva do paleolítico à Idade Média (com uma excelente técnica expositiva), noutro podes ver as profissões da região de um passado recente: costureira, sapateiro, ferreiro, tecelão, taberneiro e professor. Tudo com objetos da época. Verdadeiras cápsulas do tempo. Os restantes pólos são ocupados por exposições temporárias, muitas vezes verdadeiramente surpreendentes.
A poucos metros do museu – basta desceres a rua – tens os Paços do Concelho de um lado e a igreja Matriz do outro, consagrada a Santa Maria Madalena. Acredita-se ter sido construída na segunda metade do século XVI. No largo está o coreto, considerado em 2016 como um dos 35 melhores do país, que funciona como posto de turismo.
Depois é só voltar a subir para a rua do Museu e almoçar no Brás, onde podes experimentar um delicioso cabrito assado acompanhado de umas migas de chícharos feitas com esta leguminosa que é rainha do concelho, couves migadas em estilo caldo verde e broa. De comer e chorar por mais. Podes sempre voltar em outubro, por altura do festival gastronómico onde a imaginação é o único limite para a utilização de chícharos.
Para a tarde, as propostas são mais radicais. Quem vai a Alvaiázere também se deve deixar tentar pelo parapente. As condições são perfeitas e para os amantes da modalidade tem sido um ponto cada vez mais divulgado. Ventos favoráveis permitem planar no alto da serra e apreciar, do céu, tudo o que a natureza tem para oferecer nesta região. A vista é de cortar a respiração. Só tens de marcar com antecedência para garantir uma boa conjugação de tudo aquilo que queres fazer.
Já de partida uma última paragem no baloiço de Alvaiázere. É mais um que a região de Leiria tem para oferecer. É para os menos radicais, mas se tens vertigens, cuidado! Balouçar com os pés para o infinito dá sempre um friozinho no estômago. Se não tens coragem ou não sabes fazer parapente esta é uma perfeita solução de compromisso.
Comunidade Intermunicipal
da Região de Leiria
Edifício Maringá, Torre 2 – 2º andar, 2400-118 Leiria
Telefone: +351 244 811 133
(Custo de uma chamada para a rede fixa nacional)
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