Aprenda como surgiu essa matéria criada a mais de dois mil graus de temperatura, a partir da areia e da sílica, no tempo dos egípcios e fenícios.

Marquês de Pombal reuniu as condições para que Guilherme Stephens transformasse a antiga Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande num pólo de desenvolvimento. Neste espaço dedicado às artes decorativas do vidro, bem como à tecnologia de produção de vidro utilitário e científico, é possível viajar no tempo e ficar a saber um pouco mais sobre uma indústria que ainda hoje dá cartas. É da Marinha Grande que saem as garrafas da Super Bock e da Carlsberg, por exemplo.

Naquela que foi a residência dos irmãos Stephens – um edifício de inspiração neoclássica, construído na segunda metade do século XVIII – é possível ver peças ímpares como uma garrafa de seis vinhos (no mesmo recipiente podem servir-se em simultâneo seis tipos diferentes de néctares de baco sem qualquer mistura), oferecida ao rei D. Carlos I, que ainda hoje desafia a habilidade dos mestres vidreiros, um galheteiro de vidro soprado em forma de cereja com as pontas cruzadas, ou anda um serviço completo de vidros oferecido pelos trabalhadores da fábrica ao próprio Guilherme Stephens num gesto de gratidão.

O gestor a quem Marquês de Pombal pediu que relançasse a indústria vidreira nacional, num esforço de reduzir as importações equilibrar a balança comercial do reino, estava à frente do seu tempo. O lema da fábrica, em 1769, era “Ordem e Trabalho – 888”, que na prática queria dizer: oito horas de trabalho, oito de lazer e oito de descanso. Fiel a esta convicção mandou construir um teatro, hoje com 236 lugares sentados (sem contar com camarotes) onde se fazem concertos espetáculos, teatro infantil e até concertos para bebés.

As peças estão dispostas nos dois pisos do palacete. Destaque para o grande salão onde o lustre composto por mais de mil peças presenciou jantares e festas sumptuosas ao som de músicos exímios, instalados no segundo andar, reservado aos empregados.

É neste segundo andar, onde a gaiola pombalina é deixada à vista de todos, protegida por placas de acrílico, os tetos são mais baixos e as portas mais pequenas, que se pode admirar uma recriação de um forno e os vários utensílios usados. Dos trajes, às alpercatas fabricadas na região, passando pelo frasquinho do vidreiro (para a bela aguardente), um elemento indispensável em qualquer lancheira.

O museu tem ainda um recanto reservado aos moldes, os primórdios de uma outra indústria muito importante na região. Mas basta atravessar a rua e, no edifício da resinagem, conhecer um pouco mais da viagem no tempo dos moldes com a exposição que dará lugar ao futuro museu dos moldes. Com o vidro a entrar em declínio Aníbal H. Abrantes foi beber o que de melhor se fazia pela Europa. Regressou com a ideia dos moldes para plástico. Mas o irmão e sócio, Aires Roque, não quis arriscar e optou por vender a posição na empresa. Dois anos mais tarde, Abrantes produziu o primeiro molde de injeção para plástico. Foi com brinquedos que Portugal viu nascer aquela que é hoje uma das principais indústrias exportadoras em Portugal.

O núcleo de arte contemporânea do Museu do Vidro está num moderno edifício adjacente, todo em vidro e metal. Aqui pode apreciar diferentes peças, dos mais variados autores, nacionais e estrangeiros. Entre peças convencionais, excêntricas e surpreendentes o ator principal é sempre o vidro.

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